terça-feira, 14 de junho de 2016

Apostas

Momentos espiralados, que vem e que vão
Incertos e constantes, contraditórios são
Jogadas improváveis, um mesmo tabuleiro
Isolados os fatos, não são na verdade costumeiros?

Pecados ou bençãos, assumidos ou retificados
O julgamento do tempo não é explicado
Numa terra sem rei, o êxtase rege
Num comando reticente, a alegria perece

Que está a fazer com a espiral que lhe foi dada?
Tendo sorte ou mão boa, ainda resta a cartada.
Se lhe assusta o jogo, porque volta ao cassino?
Sem escapatória digna, o prazer lhe ensino.






Abertura

Poderosa arma da impotência
se você pretende apenas ferir a si mesmo
raiva e ira, arco e lança
lançados a frente contra o inimigo
oculto está o verdadeiro oponente
a dor se manifesta, potente e perigosa
dardo lançado contra corrente de vento
volta ao estado inicial de partida
atinge o centro do que se queria protegido
destrói o precioso tesouro guardado
desfaz em pedaços memórias e sentidos
resultado óbvio da autodestruição imposta
caminho inconcebível para regeneração
desapegar do mais precioso
desfazer o laço mais antigo
libertação do apego que aprisiona

liberdade pro amor a si mesmo.

Desabrochou!

É na calada da noite que as dores se formam
É no silêncio do tempo entre os mundos
O tempo que não era tempo
O lugar sem lugar, espaço vazio vagando no caos
Onde toda dor se forma e onde toda dor se converte em transformação
Frescor
Foi a sensação que desencadeou a mudança
Brisa leve, vento fresco como numa tarde de primavera
Aquela tarde que fez desabrochar a flor mais bela.
Todos viram sua expressão surpresa
Todos aplaudiram e gritaram: Desabrochou o amor!
E das dores da noite, nada restou.
Nada além da casca de onde irrompeu raízes.
De onde cresceu o caule.
De onde surgiram pétalas que serviram de cama ao perfume dela.
Ela que era dor, que ergueu-se entre os espinhos.
Ela que conheceu a morte e que se refez em vida.

Ela que desabrochou, a fina e delicada porém forte e valente, a flor do amor.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Para mim mesma

Eu te amo como quem ama o mar. E se delicia só de ver a graciosidade tímida de seus movimentos. Hipnotizado pelo som ritmado e místico que você produz com seu riso, com seu anseio, com seu arfar sofregante. Entregando-me ao prazer infindável que seu toque produz na minha pele. Derretendo conscientemente a noção de realidade ao consumar a entrega.
Eu te amo como quem ama o mar. E se intimida quando nota vir a superfície toda a fúria imperceptível que se guardava nas profundezas do seu íntimo. Que respira e tenta controlar as próprias emoções que surgem em resposta aos urros apavorantes que vc emite ao transbordar pela boca sua insatisfação. Evitando a todo custo ser tragado pela destruição criada ao seu redor.
Eu te amo como quem ama o mar. Como quem sabe ver a inacreditável beleza do caos. Como quem compreende que a vida não é feita de preto e branco e sim de milhões de nuances de cores, como os azuis e verdes que aparecem no mar. Sempre iguais e sempre absolutamente diferentes.