terça-feira, 24 de março de 2009

A Ponte

Alguns só pulam de pedrinhas.
Eu me jogo da ponte.

Ah! Como eu queria que o medo fosse um freio. Que me detivesse quando eu estou prestes a cometer outra loucura. Que me amarrasse, me segurasse, me prendesse ao chão da razão!
Mas não! O medo é combustível, é mais lenha na fogueira, é mais força pro motor e lá vou eu desenfreada pulando e pulando, pontes, espaços e precipícios.

Me perguntam: E a dor da queda?
Parece até o objetivo!
Sabendo ser certo o encontro com a dor, eu me jogo mais ainda, com mais vontade, desejando do fundo do coração aterrizar num monte de plumas.
E quando no meio do vôo, eu abro os olhos e só enxergo o chão pedregoso, a razão me diz: eu já sabia, eu te avisei...
E mesmo levando bronca de mim mesma, a única coisa que penso, e é a ela que me apego, é um consolo infantil : Quem sabe na próxima?

(Resposta a http://entreespacos.blogspot.com/)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Drummond

A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Epifania


"Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no memento exato. E então pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome...
Auto-estima

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um
sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...
Autenticidade

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que
acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de...
Amadurecimento

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situção ou alguém apenas
para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que
não é o momento ou que a pessoa não está
preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é...
Respeito

Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo
que não fosse saudável. Pessoas, tarefas, tudo e
qualquer coisa que me pusesse para baixo.
De início minha razão chamou
essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama...
Amor próprio

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os
projetos megalômalos de futuro. Hoje faço o que
acho certo, o que gosto, quando quero e
no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é...
Simplicidade

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre
ter razão e, com isso, errei menos vezes.
Hoje descobri a...
Humildade

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo
o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me
mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é...
Plenitude

Quando me amei de verdade percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e
valiosa aliada.

Tudo isso é...
Saber viver!!!"


Charles Chaplin

sexta-feira, 6 de março de 2009

Orquestra Imperial


Patrícia
(Damasco Peres Prado / Versão: A. Bourges)

Quero, quero ser chamada de querida
Quero, quero esquecer o dissabor
Sonho, sonho com as venturas desta vida
Sonho, sonho com as delícias do amor

Falam que eu sou bela Patrícia
Sempre a despertar loucas paixões
Dizem que meus olhos quando olham têm também malícia
Que com meu sorriso provocante eu conquisto os
corações

Mas bem sei que sou triste Patrícia
Com a alma cheia de amargor
Pois ainda estou a esperar de alguém, sincero amor