sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Carla Bruni - Quelqu'un M'a Dit


Composição: Carla Bruni

Disseram-me que as nossas vidas não valem grande coisa,
Elas passam em instantes como murcham as rosas.
Disseram-me que o tempo que desliza é um bastardo
Que das nossas tristezas ele faz suas cobertas

No entanto alguém me disse...
Que você ainda me ama,
Foi alguém que me disse
que você ainda me ama
Seria isto possível então?

Disseram-me que o destino debocha de nós
Que não nos dá nada e nos promete tudo
Faz parecer que a felicidade está ao alcance das mãos,
Então a gente estende a mão e se descobre louco
No entanto alguém me disse...

Mas quem me disse que você me ama ainda?
Eu não recordo mais, já era tarde da noite,
Eu ainda ouço a voz, mas eu não vejo mais seus traços
"ele ama você, isso é segredo,
não lhe diga que eu disse a você"

Sabe, alguém me disse...
Que você ainda me ama,
Disseram-me isso realmente...
Que você ainda me ama,
Seria isto possível então?

Disseram-me que as nossas vidas não valem grande coisa,
Elas passam em instantes como murcham as rosas.
Disseram-me que o tempo que se vai é um bastardo
Que das nossas tristezas ele faz a sua coberta

No entanto alguém me disse...
Que você ainda me ama,
Foi alguém que me disse
Que você ainda me ama
Seria isto possível então?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

De que adianta ter asas se não nos permitimos voar?




Se um dia te libertei foi para que soubesses que acima de tudo prezo teu desejo.
Quero que sejas livre como eu sou, que tenhas e proves de tudo no mundo porque eu tive e provei.
Que a sua vontade seja feita e que seu desejo seja delicioso e realizável.
Pois não há nada de que eu me abstenha e não há nada que eu te negaria, porque pra mim o amor é isso: caótico, imprevísivel, flutuando livremente no ar.
Tolo é quem aprisiona o amor para ouvi-lo cantar, mal sabe que é canto de dor, de tristeza, de morte...
Prefiro a lembrança ao desperdício.
Sei que serás eternamente meu, amor. Pois teu canto de glória, quando fulgurante voavas no último céu comigo, estará sempre guardado no meu peito.
Um pequeno souvenir de viagem contendo toda a essência do universo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

dia ruim

E começa tudo de novo...
o mesmo aperto, a mesma angústia, o mesmo vazio...
apesar de entender o que acontece é simplesmente impossível não sentir...
dias bons e dias ruins se misturam num mosaico complexo e tudo que eu quero é dormir...
como se o sono apagasse as lembranças, anestesiasse as dores, me envolvesse num manto de paz...
Calar...
há como eu queria que as vozes dos meus pensamentos se calassem...
as vezes, apenas as vezes, apago num sono profundo e não lembro de nada...
geralmente tenho um sono perturbado, remexido, inquieto que insiste em desgastar meu corpo e mente...
estou cansada de lutar contra mim mesma...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um espinho de Marfim.


Um espinho de marfim

Amanhecia o sol e lá estava o unicórnio pastando no jardim da Princesa. Por entre flores olhava a janela do quarto onde ele vinha cumprimentar o dia. Depois esperava vê-la no balcão, e, quando o pezinho pequeno pisava no primeiro degrau da escadaria descendo ao jardim, fugia o unicórnio para o escuro da floresta.

Um dia, indo o Rei de manhã cedo visitar a filha em seus aposentos, viu o unicórnio na moita de lírios.

Quero esse animal para mim. E imediatamente ordenou a caçada.

Durante dias o Rei e seus cavaleiros caçaram o unicórnio nas florestas e nas campinas. Galopavam os cavalos, corriam os cães e, quando todos estavam certos de tê-lo encurralado, perdiam sua pista, confundindo-se no rastro.

Durante noites o rei e seus cavaleiros acamparam ao redor de fogueiras ouvindo no escuro o relincho cristalino do unicórnio.

Um dia, mais nada. Nenhuma pegada, nenhum sinal de sua presença. E silêncio nas noites.

Desapontado, o rei ordenou a volta ao castelo. E logo ao chegar foi ao quarto da filha contar o acontecido. A princesa penalizada com a derrota do pai, prometeu que dentro de três luas lhe daria o unicórnio de presente.

Durante três noites trançou com fios de seus cabelos uma rede de ouro. De manhã vigiava a moita de lírios do jardim. E no nascer do quarto dia , quando o sol encheu com a primeira luz os cálices brancos, ela lançou a rede aprisionando o unicórnio.

Preso nas malhas de ouro, olhava o unicórnio aquela que mais amava, agora sua dona, e que dele nada sabia.

A princesa aproximou-se. Que animal era aquele de olhos tão mansos retido pela artimanha de suas tranças? Veludo do pelo, lacre dos cascos, e desabrochando no meio da testa, espinho de marfim, o chifre único que apontava ao céu.

Doce língua de unicórnio lambeu a mão que o retinha. A princesa estremeceu, afrouxou os laços da rede, o unicórnio ergueu-se nas patas finas.

Quanto tempo demorou a princesa para conhecer o unicórnio? Quantos dias foram precisos para amá-lo?

Na maré das horas banhavam-se de orvalho, corriam com as borboletas, cavalgavam abraçados. Ou apenas conversavam em silêncio de amor, ela na grama, ele deitado aos seus pés, esquecidos do prazo.

As três luas porém já se esgotavam. Na noite antes da data marcada o rei foi ao quarto da filha lembrar-lhe a promessa. Desconfiado, olhou nos cantos, farejou o ar. Mas o unicórnio comia lírios tinha cheiro de flor, e escondido entre os vestidos da princesa confundia-se com os veludos, confundia-se com os perfumes.

Amanhã é o dia. Quero sua palavra comprida, disse o rei- virei buscar o unicórnio ao cair do sol.

Saído o rei, as lágrimas da princesa deslizaram no pelo do unicórnio. Era preciso obedecer ao pai, era preciso manter a promessa. Salvar o amor era preciso.

Sem saber o que fazer, a princesa pegou o alaúde, e a noite inteira cantou sua tristeza. A lua apagou-se. O sol mais uma vez encheu de luz as corolas. E como no primeiro dia em que haviam se encontrado a princesa aproximou-se do unicórnio. E como no segundo dia olhou-o procurando o fundo de seus olhos. E como no terceiro dia aproximou a cabeça do seu peito, com suava força, com força de amor empurrando, cravando o espinho de marfim no coração, enfim florido.

Quando o rei veio em cobrança da promessa, foi isso que o sol morrente lhe entregou, a rosa de sangue e um feixe de lírios.


COLASANTI, Marina."Um espinho de Marfim". IN: Um Espinho de Marfim e outras histórias. Porto Alegre: L&PM. p. 39,1999.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Segunda

Quando o não era sim, o silêncio fez-se presente.
E morreu, ainda na boca, o desejo inconfesso.

domingo, 12 de outubro de 2008

Desabrochar


Há tempos a terra promete uma belíssima primavera.
Mas o inverno que tomou conta do ambiente não arrefece nem uma gota de suas tempestades.
O clima tenso e sombrio impregna as paredes e os móveis, se agarra gosmento as pessoas e corrompe sua paciência e boa vontade.
As palavras doces e suaves, ao invés de flutuar, grudam no ar hostil e são carregadas pelas correntes de desprezo.
Nem uma flor de delicadeza consegue transpor os rigores deste inverno amargo que transborda da alma das pessoas e só se fortalece a medida que os humores se encontram e contrapõem.

Ontem, porém, nasceu uma flor. Ela rompeu a escuridão e o ódio e desabrochou.
Como diria Drummond: "É feia mas é uma flor!"
Ainda há esperança!